segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A patrícia e o plebeu

Ela aprecia concertos de música clássica
Batendo palmas como a gente particular
Fica em evidência nos grandes eventos
Atua com maestria na arte de dissimular

Ele é a majestade maior da boca do lixo
Possui, no bolso, somente alguns trocados
Como um sujeito simples, tem desgostos
Carrega consigo um fardo muito pesado

Dividindo a mesma rua, o luxo e a miséria
Evidenciam a incrível desigualdade social
Corremos sem parar, mesmo sem refúgio
Como quem pode previr seu próprio final

Ela ostenta as joias que mantêm um brilho
Os holofotes se voltam, a câmera é focada
A televisão transmite, retransmite e assim
A dama torna-se cada vez mais desejada

Ele está apenas tentando achar um abrigo
Na metrópole, há homens que viram cães
Quem sabe consiga realizar uma refeição
Com as migalhas que sobraram dos pães

Entre o marginalizado e a ilustre rainha
A maioria decide qual caminho escolher
Ignorando visões alternativas dos fatos
Parece que o importante mesmo é ter.


Dividindo a mesma rua, o luxo e a miséria
Evidenciam a incrível desigualdade social

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Saindo por sair

Marca meia-noite no relógio de um integrante
Do bar da Cidade Alta, local nada adequado
É irônico que a chuva apareça só no sábado
Após toda a semana com um clima radiante

O caminho que eu faço para voltar para casa
Nunca pareceu tão longo, tenso e perigoso
Ainda que mude a rota, dificilmente escondo
O quanto essa indefinição deixa-me nervoso

Saindo por sair, eu lhe visto em outras almas
Torcendo para que alguém toque no seu nome
Entendo que há meses mantemos toda a calma
No papel, visto que anseio que tu me chames!

Se eu consigo chegar, enfim, às seis da manhã
E visualizo a mensagem que deixaste para mim
Visivelmente emocionado, posso deitar em paz
Nós dois, um mais um, tem tudo para ser assim.

Nós dois, um mais um, tem tudo para ser assim

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Em fase de transição

Os amigos que se encontravam todos os dias agora só se veem de vez em quando. A escola, por sua vez, permanece no mesmo lugar, como uma impetuosa e inabalável construção, palco de muito mais do que meros ensinamentos. Ela ainda está lá, mas é como se tivesse desaparecido em meio à névoa da madrugada gelada. Um ciclo se encerrou.

No ensino médio, diversos professores comentavam que na faculdade seria "cada um por si" e eles estavam certos. Cada um cuida do seu quadrado em um convívio com relações impessoais em sua maioria, com os alunos ocupando a posição de clientes. O engraçado é que muita gente não gosta de estudar e mesmo assim está pagando caro para estar lá.

Todos têm alguma história para contar sobre este lugar.
O preço que se paga, por manter um pingo de esperança ainda que imerso em um mar de lama, eventualmente sai muito caro. Mais fácil seria acreditar que a rotina um tanto quanto profissional que se leva agora trará maiores benefícios a longo prazo do que as conversas animadas na roda de amigos, como se esse ir e vir na completa seriedade não fosse o negócio mais chato da galáxia.

Eu aprendi muito mais com professores que trocavam uma ideia bacana com os alunos do que com aqueles que simplesmente seguiam à risca o seu plano curricular. Os mestres que, de fato, sabem ensinar, sempre têm algo a mais do que o planejado para passar de conhecimento, afinal este é uma fonte inesgotável. Os que saem do script ficam eternizados na memória.


Um mestre real é facilmente reconhecido pela sua turma.
(Sociedade dos Poetas Mortos)
Estando o convívio entre as pessoas cada vez mais automatizado e cronometrado, em um transcorrer infindável de contínuas mudanças, os gestos expansivos dão lugar ao semblante fechado; o sorriso está contido; o café é saboreado mais amargamente. Seria amadorismo demais revelar as emoções pessoais ao grande público. Quem sabe no teatro (ou no circo).

Enquanto que o padrão de convivência for baseado em um compartilhamento de coisa alguma, lembrarei com apreciação daquele professor que ousava ao contar uma piada na sala de aula, do colega com ares anarquistas e que ainda assim passava de ano, da brincadeira mais que tradicional de furar a fila do lanche... todos marcantes! Que o previsível dê uma trégua e a passagem possa, enfim, ser mais tranquila.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Super-heróis

Frequentemente sonho que estou voando
Que posso levitar ou atravessar paredes
Eu nunca me vesti como os super-heróis
Mas que bom seria poder contar com eles

Nós somos minúsculos diante das injustiças
Crianças são assassinadas na Faixa de Gaza
O Super-Homem, se real fosse, deprimido
Provavelmente ficaria trancafiado em casa

Precisamos de poderes especiais todo dia
Para superarmos a insensibilidade imensa
A segurança inexiste entre quatro paredes
E as novas gerações permanecem tensas

Sangue é entretenimento para as massas
Terrorismo na manchete dos telejornais
O homem baleado está na capa da revista
Desvirtuadamente esperamos por mais

No intervalo das notícias, o horário eleitoral
Então o voto se torna uma escolha aleatória
Vamos girando a roleta sem ouvir propostas
No lugar de tentar construir outra história

Temos escolhas, mas não sabemos escolher
Nos acostumamos com uma realidade desigual
Enquanto assisto filmes com os super-heróis
Logo penso que eles não seriam no mundo real.

Precisamos de poderes especiais todo dia
Para superarmos a insensibilidade imensa