segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Teste cego

Na década de 1980, a Pepsi lançou, como estratégia mercadológica, um teste cego no qual os consumidores experimentavam dois tipos de refrigerante sem saber de que marcas eram e elegiam o seu preferido. Ao final do teste, 57% dos participantes haviam achado a Pepsi melhor que a Coca-Cola.

A gigante Coca, preocupada com o resultado da pesquisa e a crescente participação de mercado da concorrente, adotou uma medida radical: mudou a sua fórmula e lançou a New Coke, com gosto mais adocicado. O novo produto teve uma péssima recepção pelo público e não demorou a sair de circulação.

Pesquisadores posteriormente constataram que o teste cego tinha validade questionável, haja vista que o sabor de um produto, quando associado à subjetividade da marca, é diferente. A Coca superaria a Pepsi em vendas, portanto, por causar um impacto maior na mente das pessoas, ainda que a rival possa ser mais gostosa.

A marca altera a nossa percepção de um produto.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Grande rede

Adoro estar informado pelo Facebook
Ter conhecimento sobre tudo e todos
Atualizar a linha do tempo feito louco
Adicionar até mesmo desconhecidos

Converso o dia inteiro no WhatsApp
Chego a cansar de tanto que eu falo
Faço parte dos mais variados grupos
Vibra o aparelho e eu vou no embalo

No Instagram, exibo a minha alegria
Baita sorriso, praia e comida chique
Aqui a crise ainda não foi percebida
Me segurem, porque estou no pique

Viajo o mundo todo pelo Street View
Conheci Amsterdã, Londres e Berna
Como é bom ser um cidadão global
E isso que eu nem mexi uma perna

Sou membro efetivo da grande rede
A desconexão agora não é cogitada
Pertenço ao terreno com vida virtual
Me atrai qualquer telinha iluminada.


Estar fora da rede, atualmente, equivale a não existir.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Pseudointelecto

Cuidado com quem se diz intelectual
Gente assim é capaz de quase tudo
No casulo da hipotética inteligência
Indiferente aos problemas do mundo

Toda virtude real envolve a discrição
Somente quem é tolo se exibe à toa
Mas o outdoor do vazio está em alta
E a fase da mediocridade anda boa

Qualquer coisa se vende como arte
A mentes férteis, esterco de primeira
Tolerância só entre a própria classe
O povo lá fora fala bastante besteira

Fuja dos falsos pregadores do bem
Eles têm fetiche pelo autoritarismo
Pense muito para não pensar mal
Ideologia barata faz seu terrorismo.


A mentes férteis, esterco de primeira

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Maltratado com satisfação

Um estado psicológico peculiar me chamou a atenção assim que tive conhecimento dele: a síndrome de Estocolmo. É portador de tal síndrome quem, após estar exposto a um longo período de intimidação, passou a ter afeição pelo agressor. Vítimas de sequestro, escravos e pessoas submetidas à violência doméstica, por exemplo, podem desenvolvê-la.

São características marcantes desses casos a existência de uma relação envolvendo poder e coerção, bem como a ameaça de danos físicos ou morte. A vítima, com um extremo estresse físico e mental, começa evitando comportamentos que desagradem o seu algoz e termina interpretando os atos dele de não violência como indícios de suposta simpatia.

A síndrome é assim nomeada em referência a um assalto a banco que ocorreu em Estocolmo, capital da Suécia, em agosto de 1973. Na ocasião, quatro indivíduos feitos de reféns por dois assaltantes recusaram a ajuda da polícia e continuaram a defender os seus raptores mesmo quando libertos. O psiquiatra Nils Bejerot que cunhou o termo.

Ao contrário do que parece, a síndrome de Estocolmo não é tão rara. Um caso clássico diz respeito às mulheres que, mesmo sendo violentadas de diversas formas pelos seus parceiros, os protegem e até encontram justificativas para as agressões sofridas. Cada louco com a sua mania, haja vista que alguém sensato recusa quaisquer maus-tratos.

Talvez você conheça algum portador da síndrome de Estocolmo.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Fragmentos de amor líquido

Abaixo, alguns trechos extraídos do recomendado livro sobre a fragilidade dos laços humanos "Amor Líquido", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o qual faleceu, aos 91 anos de idade, em janeiro de 2017:

"Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida."

"Nos compromissos duradouros, a líquida razão moderna enxerga a opressão; no engajamento permanente percebe a dependência incapacitante."

"A solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar o terreno doméstico comum."

"O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos de consumo e a julgá-los, segundo o padrão desses objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu 'valor monetário'."

"O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros."

"A moral nada mais é que uma manifestação de humanidade inatamente estimulada — não 'serve' a propósito algum e com toda certeza não é guiada pela expectativa de lucro, conforto, glória ou autoengrandecimento."

"Os moradores das cidades e seus representantes eleitos tendem a ser confrontados com uma tarefa que nem por exagero de imaginação seriam capazes de cumprir: a de encontrar soluções locais para contradições globais."

"Toda aposta na pureza produz sujeira, toda aposta na ordem cria monstros."

"Além de representarem o 'grande desconhecido' que todos os estrangeiros encarnam, os refugiados trazem consigo os ruídos de uma guerra distante e o fedor de lares pilhados e aldeias incendiadas que só podem lembrar aos estabelecidos a facilidade com que o casulo de sua rotina segura e familiar (segura porque familiar) pode ser rompido ou esmagado."


"Amor Líquido", lançado no Brasil em 2004 pela Editora Zahar.