segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Pequenas cidades, grandes negócios

Quando eu era criança, tinha uma admiração pelas grandes cidades, constituídas por arranha-céus, gente de montão e pontos turísticos de destaque mundial. Queria até mesmo saber o nome das capitais do maior número possível de países.

Crescido e com uma visão mais ampla da realidade que me cerca, percebo que as grandes cidades normalmente vêm acompanhadas também de grandes problemas, como a falta de segurança, a desigualdade social e os níveis acentuados de poluição.

Amadureci e mudei de opinião: agora, prefiro as cidades pequenas. Muitas vezes distantes dos grandes centros, elas apresentam as suas peculiaridades e, embora também passem por maus bocados, normalmente estes estão bem mais sob controle.

Nos pontos quase imperceptíveis do mapa, residem pessoas com histórias culturalmente riquíssimas, belezas naturais que nos desacostumamos a ver e um sentimento de fraternidade que rege as relações humanas, estabelecidas com base na confiança.

Na contramão do ciclo migratório natural do ser humano, que culmina na saída do seu cantinho para um complexo maior, quero largar o meu cantinho para fixar-me em outro ainda menor e menos comentado, porém mais acolhedor e instigante.

Cascata em Cotiporã/RS (cerca de 4 mil habitantes).

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desfilando na chuva

Certa vez, um aventureiro saiu a caminhar
Estava chovendo e ele permitiu se molhar
Sem apressar o passo, optou pela sensação
Enquanto todos corriam, ele era a exceção

Sabiamente, refletiu acerca da fuga alheia
Era como se cada um quisesse a sua aldeia
Muito calor no verão, muito frio no inverno
Sempre há o que reclamar, um ciclo eterno

Imaginou o que eles imaginariam ao vê-lo
Sozinho, encharcado, em total desmazelo
Sequer possuía um guarda-chuva: coitado!
Já que é tão comum se prevenir um bocado

A sua intenção era lógica: sentir a chuva
Ao mesmo tempo que tinha gente de luva
Que pecado! Que blasfêmia! Que heresia!
Não ser mais um desesperado em demasia

Ele poderia ter ficado gripado e não ficou
Ter optado por chegar antes, mas desfilou
Parecia insana a curtição naquele cenário
Mas a felicidade não tem prévio horário.


Correndo ou não, a chuva molha.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sonhei contigo

Experimente dizer para uma pessoa que você sonhou com ela. Até mesmo quem é muito fechado não resistirá à tentação de querer saber o que ocorreu naquele momento, em um lugar qualquer, sem depender da sua vontade para que acontecesse. Os sonhos são manifestações extremamente íntimas de cada um de nós e isso é tão verdade que só nós sentimos à vontade para confiar detalhes deles a quem é importante na nossa vida.

Diante da luz da psicanálise, o sonho é a oportunidade de realizar um desejo reprimido pela sociedade que nos cerca com os seus costumes; em um ponto de vista espiritual, o sonho se configura como o desprendimento da alma em relação ao corpo, podendo inclusive possibilitar o encontro com outros seres. Sonhar, pelo que se percebe, significa bem mais do que simplesmente adormecer e lembrar de algo que passou pela cabeça durante o dia.

A questão é tão complexa que envolve fenômenos relacionados e eu citarei dois deles. A paralisia do sono ocorre quando, em pleno sono REM (quando os sonhos são mais frequentes), a pessoa acorda e percebe que não consegue se mexer na cama; os sonhos lúcidos, por sua vez, são uma experiência de sonhar com a consciência de que se está sonhando, com o indivíduo tendo o poder de controlar elementos diversos.

Acredito que, à medida que passamos a dar o merecido valor à intensa atividade cerebral que ocorre mesmo enquanto estamos dormindo, podemos encontrar significados mais abrangentes sobre situações do cotidiano através dos sonhos. Eles são capazes de, se acreditarmos, nos indicar uma luz para a resolução de problemas diversos e, quem sabe, anunciar que estamos apenas de passagem em direção ao caminho da eternidade.

Coisa boa sonhar com um belo lugar
Como se, um dia, tivéssemos ido lá.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Espaçonave

De que adianta estar em uma nave espacial
Se a estrela mais bonita está do lado de fora?
De que adianta ser uma pessoa tão pontual
Se simplesmente nada ocorre àquela hora?

Deviam ser dez e quinze quando ela partiu
A nave voou, o tempo passou e tudo sumiu
Nova semana, outra era, mas isso se repete
A lacuna está aberta para que ela complete

São tantos astros em um espaço infinito
Disputando as atenções do fiel auditório
Que anseia por notícias, até por um grito
Um sinal qualquer que desfaça o ilusório

Os planetas distantes são mais misteriosos
Não tem novidade: eles atraem os curiosos
Trajetórias íngremes dispensam um atlas
Buracos negros não aparecem nos mapas

Os tripulantes foram avisados sobre o perigo
Entretanto, optaram valentemente por flutuar
Situação essa que remete ao conselho antigo
Dado às crianças em relação ao fundo do mar

Quem quer ficar na história, não tem medo
Busca as grandes conquistas, amplo enredo
Fica mais acessível confiar no improvável
Se até mesmo a protagonista é indecifrável.


Deviam ser dez e quinze quando ela partiu
A nave voou, o tempo passou e tudo sumiu