segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Inimigo bem-vindo

É sabido que um anônimo pode chamar a atenção para si ao atacar uma pessoa importante, se perturbá-la. Da mesma forma, no agitado mundo das marcas e suas campanhas publicitárias, uma sacada interessante na hora certa pode desestabilizar as bases de empresas gigantes e trazer à tona outras, que vão de um pouco menores a bastante inferiores, garantindo a elas uma ótima divulgação.

A Pepsi já lançou um comercial que teve que ser tirado de circulação por ser descaradamente provocativo em relação à rival Coca-Cola. Nele, um garoto retira duas unidades de Coca de uma máquina de refrigerantes e as posiciona no chão. Após, sobe nelas para poder retirar uma lata de Pepsi, saindo caminhando tranquilamente com o seu refrigerante favorito. De enlouquecer o mais calmo inimigo.

Ser a maior concorrente de uma das marcas mais lembradas em qualquer lugar do mundo é uma condição privilegiada, não um problema. Sendo inviável superar a rival na atual conjuntura do mercado, cabe à Pepsi aproveitar os momentos oportunos para dar uma alfinetada na Coca e, consequentemente, fazer do seu nome mais lembrado. O boom da tecnologia permite que um vídeo torne-se viral em minutos.

Mantendo o respeito ao adversário e prezando por uma observação realista dos fatos, é possível transformar a tempestade do vizinho no seu aguardado lugar ao sol. Por mais que ele fique indignado no começo, com a cabeça fria pensará nos erros que levaram à criação da oportunidade de um aproveitamento alheio, buscando melhorar o seu desempenho. O único lobo a se temer é o que se reveste de pele de cordeiro.

Um rival admirável lhe motiva a dar passos ousados.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O escolhido

Aquele foi um olhar de amor, eu pensei
Uma mulher sempre percebe, eu concluí
Como se pontos tivessem sido entregues
Como se esquecesse o que me trouxe ali

Um homem de verdade não diz "te amo"
De forma gratuita e indiscriminadamente
Entretanto, o denuncia de outros modos
Também retumbantes e desesperadamente

O amor feminino costuma despertar temor
É bem mais fácil envolver-se com outras
Do que com a garota que escolheu você
E você nunca a acha em quaisquer bocas

Aí existe a fuga desenfreada e cansativa
Negando a si mesmo a maior obviedade
Gostar por gostar você gostou de tantas
Ela você ama e já comenta toda a cidade

O sentimento latente bate na sua porta
Ele se chama Amor e pede para entrar
Você pensa muito porque não percebeu
A sua disposição imensa em se entregar.


Raramente o Amor vem visitar. Convide-o a ficar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Dúvidas e certezas

Pare para refletir um instante:


Se alguém viveu 100 anos, que é uma idade considerável, vindo a falecer no ano de 2016, o que ele foi ou fez nos outros 1916 anos anteriores, sem contar todos os anos antes de Cristo? Nada? Então a nossa existência tem um valor meramente subjetivo.

Espere um pouco e reflita mais:

E se existissem vidas anteriores e posteriores à que esse alguém centenário teve agora, quem foi ele e quem ele será? Será que fez muito mal e está em um processo de evolução contínua? É difícil saber quantas vidas seriam necessárias para o ser humano melhorar.

As dúvidas são mais interessantes que as certezas. Se você não sabe de onde veio e nem para onde irá, que são as questões existenciais mais básicas, seja humilde e assuma que sabe muito pouco e comece a aprender. A fé é uma esperança, não uma confirmação.

Use e abuse do ponto de interrogação.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Completamente sozinho

Um músico compõe as suas canções sozinho
Um escritor desenvolve os seus textos sozinho
Eles lidam bem com a solidão, precisam dela
Os não-artistas sentem o vazio escurecer a tela

Estar sozinho é diferente de estar solitário
Dá para se encontrar completo na solidão
E completamente perdido ali na multidão
Como duas vestimentas do mesmo armário

É simples: se trata de gostar de si mesmo
Boa companhia para si deve ser a outrem
Pois quem não pode ser seu grande amigo
Não cria uma boa amizade com ninguém

Sem dramatizar, encare firme o ficar só
Pare e olhe-se fixamente em um espelho
O que você vê é tudo o que precisaria ver
Ótima imagem sua sem um vulto parelho.

Ele reclamava por ficar só
Sem saber que havia companhia pior.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

De volta à escola

Voltei à escola. Não sou mais aluno, mas um eterno aprendiz. Senti algo bom quando adentrei no educandário, flertando com a imensidão de um espaço relativamente pequeno e percebendo as mesmas salas de aula que estavam lá. Desconfio que quem não sente uma mínima nostalgia da época de escola não sente nada.

Estou ficando velho, pois posso entrar na sala da direção sem sentir o menor receio. Uma vez só entrava lá para assinar algum papel referente a alguma coisa que eu fiz que não admitia merecer aquele terrível momento de assinatura. A superação do medo é um sinal claro de maturidade e dá para tirar isso de positivo.

A escola e o aprendizado que ela me possibilitou, que vai além do conteúdo programado, criou uma marca forte em mim. Frequentemente o ambiente dos meus sonhos é uma das três escolas em que estudei. Não é estranho quando percebo que passei bons anos da minha vida ali, bem aproveitados e que deixaram saudade. 

Nos últimos anos do ensino médio, uma certa professora minha teimava em afirmar que as amizades de escola acabariam quando a escola acabasse para cada um de nós. Ela estava enganada. Muitas amizades permaneceram e a própria escola continua presente, ainda que na memória. Acho que ela não tinha aprendido tanto.

Sala de aula: um dos melhores lugares do planeta.