segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Fabulando

 O inverno e a primavera
(Esopo)

O inverno estava ralhando com a primavera e a enchia de reprovações:

- Mal tu apareces, ninguém fica parado; este vai pelos campos e florestas para colher as flores que ama, lírios ou rosas, para admirá-las ou pô-las no cabelo; aquele outro pega um barco, atravessa o mar e, se for possível, vai visitar outros países. Ninguém se preocupa mais com o vento ou a chuva. Eu, ao contrário, pareço um chefe a quem se obedece sem reclamar: a uma ordem minha, os olhares voltam-se do céu para a terra; inspiro medo e horror, e as pessoas se dão por felizes por terem de ficar em casa dias e dias quando assim decido.

A primavera disse:

- Por Zeus! É por isso que os homens gostariam de se livrar de ti, enquanto só o meu nome lhes parece bonito, quando não o mais belo de todos, de modo que se lembram de mim quando desapareço e ficam felizes quando retorno.

"(...) se lembram de mim quando desapareço
e ficam felizes quando retorno."

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Dia a dia

Não dá para crer em liberdade
Estando trancado em uma jaula
Sem sentir o sol, a chuva, nada
Só peça no tabuleiro da cidade

Passam as horas, acaba o dia
O outro recomeça sem mudar
Diante desta cansativa rotina
Poucos têm chance de inovar

A maioria comemora na sexta
'Sobrevivemos! Conseguimos'
Mas a vitória seria no dia a dia
Fazendo o que confere alegria

Ir dormir tarde e acordar cedo
Trabalhar muito, ganhar pouco
Seguir o modelo da sociedade
Que faz do homem mais louco

Esquecendo as suas ambições
Preferências, ideias e emoções
Correndo dentro de um círculo
Estando recluso a um cubículo

Em subliminar, há a alternativa
Que envolve pessoas realizadas
Podendo escolher o seu destino
Com coragem em suas jornadas.

Seguir o modelo da sociedade
Que faz do homem mais louco

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Detalhes do perfume

Gostaria de saber a origem daquele perfume
Que acaba na madrugada e volta na semana
Com o pensamento longe, sigo caminhando
Um tanto distante de todo o pessoal bacana

É que quando viajo sozinho no quarto escuro
Parece que tanta gente não gera a diferença
Que uma pessoa, apenas, pode fazer comigo
Esquecendo o orgulho e qualquer desavença

A multidão grita alguns sons desconhecidos
Está difícil de entender o que querem dizer
Se a minha mente não está no mesmo lugar
E eu termino mais um dia sem sequer saber

No constante aprendizado de novos ideais
Convenhamos que levar a sério é olhar a si
Percebendo o que a emoção diz, a razão ri
E que, ao final, ambas deixam os seus sinais

Se existe alguém, no mundo, que entende
O menor momento é deveras importante
Pois, se olhássemos juntos, repetidamente
Foram detalhes que trouxeram-nos adiante.

Foram detalhes que trouxeram-nos adiante


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O que é melhor?

A letra maiúscula ou o último ponto?
A prosa, a poesia ou será que é o conto?
Uma mesa de escritório ou a beira do mar?
Ser realista ou viver sempre a sonhar?
O disco inteiro da banda favorita ou a música principal?
Se dar mal fazendo o bem ou se dar bem fazendo o mal?
O projétil que se perde no ar ou o tiro certeiro?
O último beijo ou o primeiro?
Um pote de sorvete com sorvete ou com feijão?
Ganhar na loteria ou conquistar um coração?

As nossas escolhas definem o que somos, bem como o que deixamos de escolher.

Boa sorte com as suas preferências!

"E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter pra onde ir."

(Raul Seixas)