segunda-feira, 26 de junho de 2017

Combate ao debate

Até para pedir intervenção militar
É preciso liberdade de expressão
E há quem queira nova ditadura
O que escancara falta de noção

Um saudosista do que não viveu
Prega justiça nas mídias sociais
Vai insultando a torto e a direito
Espalhando o ódio sempre mais

Não existe debate, mas combate
Os "cidadãos de bem" são maus
Implacáveis com seus opositores
Seja em Porto Alegre ou Manaus

Desconhecem a discussão sadia
Desrespeitam outro ponto de vista
Fuzilam sem arma (por enquanto)
Mesmo quem está na zona mista

Tem pássaros voando pra gaiola
E o pior: não sou um comediante
Mas deixo escritos alguns versos
Afinal poderão me proibir adiante.


Os "cidadãos de bem" são maus




segunda-feira, 19 de junho de 2017

Civilização do espetáculo

"As pessoas abrem um jornal, vão ao cinema, ligam a tevê ou compram um livro para se entreter, no sentido mais ligeiro da palavra, não para martirizar o cérebro com preocupações, problemas, dúvidas."

O trecho acima foi extraído do ótimo ensaio "A civilização do espetáculo: Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura" (2012), do peruano Mario Vargas Llosa, que possui um Nobel de Literatura em seu currículo. De acordo com o autor, a cultura, na sociedade contemporânea, funciona como mero mecanismo de distração, sendo a diversão do público o seu grande objetivo. As artes e a literatura ficaram banais, o jornalismo sensacionalista triunfou e a política está mais frívola do que nunca. Traz essa leitura recomendada uma perspectiva feroz da civilização atual.

Estar muito informado não é o mesmo que estar bem-informado.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Mendigo sábio

Diógenes de Sinope, filósofo da Grécia Antiga, foi um mendigo que tinha por moradia um barril, o qual representava o quão pouco os homens precisariam para viver. Era visto perambulando pelas ruas de Atenas carregando uma lamparina, em plena luz do dia, alegando estar à procura de alguém que ainda fosse honesto.

Levou radicalmente a sério os preceitos da corrente filosófica cínica, cujo fundador foi Antístenes, o seu mestre. Entendia que o propósito da vida era praticar a virtude, combatendo o prazer e mostrando indiferença à opinião pública. A autossuficiência do miserável Diogénes fez com que ele passasse a ser chamado de cão.

Acreditava que a felicidade só poderia ser alcançada se as pessoas conhecessem a sua natureza e as exigências da mesma, passando a ter autodomínio. Viver em busca de exterioridades estabelecidas pelas convenções sociais, para as quais a posse se configurava como o objetivo supremo, seria a destruição do ser humano.

Conta a história que certa vez o poderoso Alexandre, o Grande, ao encontrá-lo tomando sol em condições precárias, perguntou o que poderia fazer por ele. Diógenes, contrariado com o fato de o homem estar tapando-lhe a luz, respondeu: "Não me tires o que não me podes dar!". Alexandre ficou impressionado com a resposta e saiu.

"Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."
(Alexandre, o Grande)

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Casa azul

Passei pelo portão da minha avó
Cruzei uma rua sem asfaltamento
Me dirigi à convidativa casa azul
Bati na porta por algum momento

Um homem de meia-idade abriu
Cumprimentei ele e segui o rumo
As escadas eu subi sem fraquejar
Havia lá uma garota com aprumo

O quão real pode ser um sonho?
Desejo muito então que se repita
Para tentar recordar o nome dela

Seria este um relato enfadonho?
A magia conhece quem acredita
E eu estou persuadido pela bela.


Uma simples casa azul como cenário de devaneios diversos.