segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cair noturno

Enquanto digito no meu teclado
Imaginando quaisquer pecados
Que um padre, por aí, perdoou
Estou certo de que ele já amou

Afinal a humanidade é uma só
Bem como cada ser é individual
Todos erramos e até repetimos
Fugindo de um lado intelectual

Aparências caem no cair noturno
Cada um demonstra o que ele é
A essência convive com o existir
Conheçamos ou não um Maomé

Ignorando os credos, seguimos
Com a força da bênção interior
A realidade nem sempre é dura
Basta uma reflexão a todo vapor

Olho a mim mesmo, me conheço
Todavia perco-me em pleno ar
Conspirando sobre o outro lado
Como um marinheiro sem mar

Não queremos dedos apontados
Precisamos de abraços de perdão
Somos sempre jovens insensatos
Apenas romancistas sem religião.


Aparências caem no cair noturno
Cada um demonstra o que ele é


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Querida madruga

A madrugada traz consigo o doce do pensamento leve, descompromissado e desacompanhado das tendências. Ajuda na descoberta do que somos realmente, quando os pensamentos são tão somente aquilo que são, sem interferências externas advindas de opiniões alheias.

Felizes os que se dão ao luxo de madrugar, mesmo que seja em um ocorrido ocasional do destino. Precisamos de momentos unicamente nossos, e vejo que este espaço especial do tic-tac costumeiro do relógio apresenta uma oportunidade e tanto para analisarmos bem tudo o que está acontecendo.

Os dias passam como sempre passaram. Quando tu percebes que, enquanto a maioria dorme, és um mero samaritano acordado, lhe consideras diferente. Ninguém lhe aponta dedos, tu mesmo notas que és um tanto atípico. Uma ovelha negra, talvez? Depende do modo de interpretação.

Essa tal madrugada é sempre bem-vinda para quebrar o ócio do andar preestabelecido. Abrevio-a e então tenho "madruga", logo lembro do célebre Seu Madruga. Grande recordação. Associemos a personagens uma existência que nada valeria se não fossem os encontros promovidos pelo acaso.

O acaso me encontrou perdido
Estendi-lhe o braço, fui embora
Então ele retornou e me achou
Cara, é só a madrugada lá fora!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Peixe fora d'água

Sai de casa e habita quaisquer ruas
De uma cidade que agora é violenta
Observa a juventude sem propósito
Pensa no que dizer, mas nem tenta

Há feridas que tornam-se tatuagens
E há marcas de batom em seu corpo
Contemplando informações inúteis
Faltando muito para chegar ao topo

Conhece a música, a arte e a poesia
Ouve falar de chatice, tédio e rotina
Sabiamente deixa o relógio trabalhar
Uma hora a conversa fiada termina

Só Deus sabe o que irá lhe encantar
Tem uma moreninha metropolitana
Seu futuro ainda não foi descoberto
Sendo as mãos lidas por uma cigana

Ainda persegue a rota de esperança
Alternativamente o moçoilo acredita
Entre inúmeros indivíduos descrentes
Se ele é peixe fora d'água, que resista.

Há feridas que tornam-se tatuagens
E há marcas de batom em seu corpo




segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Momento singular

Chega o final de ano e, com ele, um clima ecoa subliminarmente vindo do litoral. É época de viver mais à noite que de dia, levar menos a sério as preocupações e refletir sobre a própria existência. Preferido por muitos, penso que o verão seja tão benquisto por remeter à liberdade que o ser humano almeja e obtém com maior dificuldade em outras estações do ano.

Menos rotina, menos roupa, mais chance de aproveitar. Quem era acostumado a usar sapato durante os dias comuns, pode tranquilamente agora colocar o seu chinelo e caminhar de maneira saudável. Sobra tempo para que nos conectemos, enxerguemos a natureza e percebamos que o mais importante dispensa sofisticações.

Paremos com a correria sem destino fixo e vamos relaxar com o sol triunfante ou o frescor advindo da noite de luar. Sonhemos da forma mais pura e saibamos extrair de um momento especial as singularidades próprias do contexto. Para isso, a ideia não deve ser de uma simples passagem, mas de continuidade em uma trilha infindável de evolução e percepção de plenitude.

Pera aí! Não pense que sou passageiro!
Explico que a minha ideia é chegar pra ficar
Escolhendo uma linha contínua, pois saiba
Que o momento presente é, de fato, singular