terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Profundamente comum

Levanto, porém não dormi
Meus pesadelos cochilam
Tomo um cafezinho preto
Imagens me sensibilizam

Ando só no ônibus lotado
Canto no silêncio tão alto
Inúmeras caras e roupas
À espera do próximo ato

Chego ao edifício, entro
Estou preso no elevador
Mais uma porta fechada
Ou a chance de ser ator

Cada um tem sua rotina
Ganhos, perdas normais
Seria o paraíso a Terra?
Céu eu creio que jamais

Ando, corro, paro e volto
Entretenimento vale tudo
Esqueço, então, de mim
Contemplando o absurdo

Até que ponto se é feliz?
Há quem vibre na sexta
Sorrio e choro neste dia
Sou homem, logo besta.

A maioria das pessoas leva uma vida deveras normal.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O poder da imaginação

O ser humano tem uma capacidade incomparável de cooperação principalmente porque, ao contrário dos demais animais, o Homo sapiens acredita em ordens imaginadas. Se todos os Sapiens de um certo local crerem nas mesmas histórias, eles obedecerão regras iguais e se auxiliarão em grande escala. Chimpanzés não contam com tal imaginação.

O dinheiro, por exemplo, só tem valor porque acreditamos que ele possui. A sua validade depende de uma realidade intersubjetiva, ou seja, de relacionamento entre humanos. Se, de uma hora para a outra, a maioria dos brasileiros perdesse a fé na nota do real, ela não passaria de um pedaço de papel inútil. A mesma lógica se aplica à crença em divindades.

Deuses gregos, que já foram considerados autoridades por uma população inteira, hoje não mandam em nada. Por quê? Porque ninguém mais acredita neles. É fácil aceitar que os antigos deuses da Grécia só existem na imaginação, mas difícil ver o nosso Deus como uma ficção. Gostamos de crer que o sacrifício na Terra será recompensado no pós-vida.

Cria-se uma teia de significados quando muita gente compartilha uma rede comum de histórias. Tanto o dinheiro como Deus têm importância para alguém pois, normalmente, seus familiares, amigos, vizinhos e até mesmo habitantes de outros países também acreditam nisso. Um homem rezará para ficar rico enquanto a sua imaginação permitir.


O Homo sapiens é o único animal que crê em ordens imaginadas.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Ao natural

Se desse pra te tirar da memória
Eu já teria te deletado do sistema
Só que eu lembro de quase tudo
E estou com um baita problema

Na areia da praia ou na calçada
A saudade leva o mesmo nome
Até no lado de lá deste planeta
Não há outra a quem eu chame

Política, economia e sociedade
Fico atento às novidades todas
Mas sem nenhuma notícia tua
De Dubai, as experiências boas

Sinto em segredo, sei esconder
Falar sobre tudo sem me expor
Evocando os teus olhos verdes
Crise fiscal só me causa torpor

Foi um prazer ter te conhecido
Na contramão da miopia geral
Uma observação atenta saberia
Que só por ti escrevo ao natural.

 
É simples redigir possuindo uma bela inspiração.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Divagações do porvir

Não é novidade para ninguém que, em 2018, dois grandes eventos atrairão a atenção dos brasileiros: a eleição presidencial no país e a Copa do Mundo da Rússia. Dizem que política e futebol (e religião) não se discutem, porém eles estão entre os assuntos que mais dão pano pra manga. Assim sendo, deixarei as minhas impressões sobre os fatos.

Me parece que a Copa é a única possibilidade real de o nosso povo sofrido ter uma grande alegria neste ano par, ainda que o Brasil tenha feito fiasco em campo em 2014. A equipe de Tite foi ótima nas eliminatórias e está afinada. Alemanha, França, Espanha, Inglaterra ou Argentina poderão estragar a festa, entretanto, hoje, eu apostaria no hexa.

No que tange à eleição presidencial, não tenho a menor esperança. O cenário se apresenta com o interminável Lula (ou um fantoche), o arredio Bolsonaro, os já conhecidos Alckmin, Marina e Ciro, bem como uma possível surpresa que tende a não ser das mais agradáveis. Sou cético e duvido que haverá uma renovação política logo.

Vejo as previsões sobre o futuro como um exercício válido independentemente de elas acertarem ou não. Videntes constroem a sua fama antes pelas várias suposições divulgadas que pelos ínfimos tiros precisos que desferem. Aproveito o espaço para desejar um ano abençoado às raras almas que leem este blogue. Um abraço, galera!

Um novo ano motiva a realizar inúmeros prognósticos.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Aposta mínima

Maldito seja o ajustamento social
Devastando o que há de peculiar
A massa tentando parecer normal
É o fim do ser que ousa inventar

Legítimos talentos são perdidos
Quando se abandona a essência
Qualidade decisiva dos criativos 
É confiarem na própria potência

Não há vergonha em ser exótico
Se o padrão iguala os medíocres
E existe um anseio de estar além

A cada esquina há um metódico
Que fez dos dias dele mais tristes
Pois apostou dez em si e não cem. 


Jogo da vida: geralmente vence quem aposta alto em si.