segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Te amo, robô

David Levy, pesquisador britânico de inteligência artificial e estudioso da relação entre homem e máquina, fez uma previsão controversa: o casamento de pessoas com robôs será legal até 2050. Para que as máquinas sejam promovidas de condição no campo amoroso, elas terão que desenvolver habilidades de conversação e compreensão da fala.

Bonecas sexuais cada vez mais reais estão no mercado e a indústria tende a expandir à medida que os produtos forem comercializados a preços acessíveis. Em breve serão disponibilizados exemplares dotados de inteligência artificial, capazes de interagir com seus donos. Não será absurdo trocar outro ser humano pela relação com uma máquina.

Milhares de japoneses adquirem anualmente bonecas para fins eróticos. Em alguns casos, não passa de um fetiche; em outros, pasmem, há um sentimento de carinho envolvido. Muitos homens no Japão também têm namoradas virtuais. A taxa de natalidade no país é baixa e são previstos distúrbios demográficos nas próximas décadas.

Aos que supõem que Levy exagera ao apostar firmemente na capacidade que as máquinas têm de despertar o amor humano, ele responde que é realista. Algo me diz que o pesquisador tem razão. Mais individualista do que nunca, o homem high-tech pode perfeitamente se apaixonar por um robô. Tudo para não precisar suportar outra pessoa.

Você aceitaria ser trocado(a) por um robô?

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Renúncia à idolatria

"Crepúsculo dos Ídolos", obra gerada pelo célebre filósofo alemão Friedrich Nietzsche no longínquo ano de 1888, foi uma das leituras que enriqueceram o meu 2017. No livro, Nietzsche questiona as supostas conquistas da sociedade de sua época. Selecionei alguns trechos do "Crepúsculo", que abordam temas como política, moral, arte e beleza:

"Em todos os tempos os sábios fizeram o mesmo juízo da vida: ela não vale nada..."

"As razões pelas quais se chamou este mundo de um mundo de aparências provam, pelo contrário, sua realidade. Uma outra realidade é absolutamente indemonstrável."

"Cada partido compreende que interessa a sua própria conservação não permitir que se esgote o partido contrário; o mesmo ocorre com a alta política."

"Reduzir uma coisa desconhecida a outra conhecida alivia, tranquiliza e satisfaz o espírito, proporcionando, além disso, um sentimento de poder."

"O juízo moral tem em comum com o juízo religioso acreditar em realidades que não existem."

"Para que haja arte, para que haja uma ação ou uma contemplação estética qualquer, uma condição fisiológica preliminar é indispensável: a embriaguez."

"Só às almas mais espirituais, admitindo que sejam as mais corajosas, é dado viver as tragédias mais dolorosas: mas é por isso que estimam a vida, porque ela lhes opõe seu maior antagonismo."

"Em resumo, o homem se reflete nas coisas, tudo aquilo que espelha sua imagem lhe parece belo: o juízo 'belo' é sua vaidade da espécie..."

"O valor de uma coisa reside às vezes não no que se ganha ao obtê-la, mas no que se paga para adquiri-la — naquilo que custa."

"Primeiro princípio: é preciso ter necessidade de ser forte, caso contrário, nunca se chega a sê-lo."

Capa da edição publicada pela Escala.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Nome de batismo

Há duas semanas, publiquei neste blog uma lista de potenciais crimes futuros feita por João Pereira Coutinho. Entre eles, havia o de imposição de gênero: os pais não poderiam mais identificar o gênero dos filhos se baseando no sexo biológico deles. Distinções entre feminino e masculino seriam eliminadas na linguagem e no vestuário, por exemplo.

Eis que surge a notícia, num grande jornal brasileiro, de que um casal de empresários batizou o seu filho com um nome de uma letra só: B. Isso mesmo, a segunda letra do alfabeto! Segundo eles, o nome abreviado foi escolhido para que a criança tenha o mínimo de influência social possível, inclusive no que diz respeito ao gênero.

Nomear alguém significaria colocar uma intenção e eles não queriam que o filho seguisse um caminho predeterminado. O garoto (ou garota, ou o que quiser) é portanto um espaço em branco, podendo explorar a sua personalidade. Que importância tem, afinal, o sexo biológico? Quanto a mim, estou mais satisfeito que nunca com o nome que ganhei.

Sou da época em que "B" era só uma letra do alfabeto. Estou velho.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Autêntica emoção

Será que existe algum amante
Estando pela paixão inebriado
Que possa então se conformar
Sem a posse do objeto amado?

A contemplação pode estimular
Mas só há história com o toque
Fazendo da ideia uma verdade
Coração em estado de choque

Preservo as cartas da moçoila
Não existe beijo para recordar
Cada um mantém o que pode
Ou inventa para se contentar!

Ela não crê em almas gêmeas
Só que tem uma irmã idêntica
Menina ainda pura, do interior
Minha emoção mais autêntica

Perdoe este pacato sonhador
Que não deslembra tão cedo
Conferindo que o amor por ti
É o seu mais íntimo segredo.

Sofrimento é um dos sinônimos registrados de paixão.