segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ignorância assumida

O agnóstico, frequentemente confundido com o ateu, possui as suas particularidades e é orientado por uma interessante visão filosófica. Enquanto que os ateístas acreditam simplesmente que Deus não existe, os agnósticos observam que o ser humano não possui conhecimento suficiente para afirmar a existência ou não de divindades.  

O cientista inglês Thomas Huxley foi o responsável por criar o termo "agnóstico", usado pela primeira vez em 1869, em um encontro da Sociedade Metafísica. Ele buscava se diferenciar dos seus colegas cientistas e clérigos, que se baseavam na fé (ou na falta dela) para encontrar respostas a respeito de questões existenciais profundas.

Há diversas vertentes do agnosticismo. São essas duas as mais relevantes:

• Teísmo agnóstico: crê na existência de ao menos uma divindade, mas entende que não há razão suficiente para prová-la;
• Ateísmo agnóstico: supõe a inexistência de quaisquer divindades, porém admite a falta de conhecimento para comprovar isso.

Simpatizo com a humilde percepção agnóstica de que não dispomos de informações consideráveis para sustentar a crença ou a descrença em Deus. Não sou crente o bastante para afirmar que Ele existe, tampouco um cético assumido. Acredito somente, por ora, que o agnosticismo recrutaria muito mais membros se o mesmo fosse compreendido.

Eu não sei se Deus existe ou não. Você sabe?

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Lavando dinheiro

Não tem calma para ninguém
Depois do conteúdo delatado
É sinal de que a tal Operação
Está apresentando resultado

Os extensos tapetes sumiram
Para onde varrerão a sujeira?
O santinho do pau oco fugiu
Quem crê em tanta besteira?

Apresente ímpeto, pátria-mãe
Ainda quero ter orgulho de ti
Prometo que não irei desistir
De confiar em evolução aqui

Meu partido não possui sigla
E clama, portanto, por justiça
Que a corrupção seja punida
Tirando dos urubus a carniça.


Posto da Torre, em Brasília/DF, no qual iniciou a Lava Jato.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Mudança de identidade

Em 1985, se vendo ameaçada pelo aumento do consumo do refrigerante concorrente Pepsi, a gigante Coca-Cola, com o respaldo de resultado de pesquisa feita com milhares de americanos, alterou a sua fórmula original. O que os respondentes não imaginavam era que somente a New Coke estaria nas prateleiras a partir de então.

Ao não encontrarem a tradicional Coca-Cola nos pontos de venda, os consumidores se revoltaram, protestando e enviando inúmeras cartas à sede da empresa. Don Keough, presidente da companhia na época, admitiu em pronunciamento que a pesquisa não pôde medir a imensa paixão que as pessoas nutriam pela Coca original.

Este caso evidencia a importância que têm, para as marcas, fazer uma análise apurada do mercado e conhecer efetivamente o seu cliente. O consumidor tende a aprovar novas opções, mas como extensão, não em substituição de um produto com qualidade reconhecida. Houve um erro crasso na interpretação dos resultados colhidos.

Três meses depois do lançamento equivocado de seu novo produto, a multinacional voltou atrás e relançou a Coca-Cola original. Corrigiu o erro e, como aprendizado, levou que a identidade de uma marca tem bastante peso e deve haver muito cuidado na elaboração e no exame de pesquisas. Sim, a Pepsi foi líder de mercado por alguns meses.

Até em time que não está ganhando pode ser um perigo mexer.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Uma xícara apenas

Eram duas xícaras e ficou uma
Para ter rodopio no micro-ondas
O café não continua tão quente
Contudo deverão chegar outras

Vai e vem, tudo virou transitório
Gente deletada como aplicativo
Tocar na tela dispensa a saliva
Velozmente se altera o objetivo

As relações então são líquidas
Recorra a Bauman, ele explica
Afeto de prazo predeterminado
Quiçá meramente atração física

Tantos números e tantas bocas
E um vácuo assaz entranhado
Deve ocorrer algo de incorreto
Pela dimensão do machucado

Sentido na excitação sensorial
Vazio, está cheio de si próprio
Preso, suas grades condenam
O indivíduo com rumo inglório.


Está mais fácil que nunca iniciar — e terminar — uma relação.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Acróstico climático

                tirem os casaCos do guarda-roupa
   esquentem a cHapa do fogão
                                       um vElho conhecido retornou
                       para a aleGria de uma minoria
      e o desesperO do restante
                 as temperatUras hão de baixar

                                           venta cOnsideravelmente em Bento

                            a pantuFa substitui o chinelo
     e o pinhão entRa no cardápio
       enquanto o vInho esquenta
                a alma dOs transeuntes

                     é absolutameNte comum esse clima
                                       na regiãO desbravada por italianos

                                ele pasSa e deixa impressões
                                      tem poUcos amigos para contar
                          e uma beLa história por trás.

Neblina na praça Ismar Scussel, em Bento Gonçalves/RS.