segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O beatle porto-alegrense

Ele não consegue mais cantar
Ele não consegue mais sorrir
Estamos tensos, Júpiter Maçã
Porque tu não estás mais aqui

Deve ter encontrado um lugar
Pra se escabelar, tomar cerveja
De gente com essência interior
Bom gaúcho não foge da peleja

O milênio passará e tu seguirás
Sendo rei da cena underground
Cascavellete em rede nacional
Com gurizada curtindo o sound

O TNT explodiu com a notícia
Um 21 de dezembro marcante
Tortas e cucas não amenizaram
O luto que sentimos pela noite

Tu poderias ter parado de beber
Dizias que não fazias ali o bem
Deixaste os teus mantras a nós
Sempre fiéis a Júpiter... amém!

Flávio Basso, o Júpiter Maçã (26/01/1968 - 21/12/2015).

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Obrigado a todos que acompanharam o blog em 2015.

Que 2016 seja iluminado!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Quem procura, acha

Quatrocentos quilômetros de distância, algumas incertezas na mala e a viva esperança de encontrá-la. Ele sabia que ela estaria lá, mesmo que não estivesse esperando por ele. Tudo o que um homem apaixonado precisa para dar um passo em frente é ter um pé. O medo de ser rejeitado existia, porém a possibilidade do "sim" fazia dele um vencedor por antecipação.

Pegou a estrada e enfrentou as adversidades do caminho íngreme como um grande lutador antes de se tornar o campeão. Estava muito pensativo, porém não pensava em nada a não ser nela. Aquele garoto que relutava até em ir ao mercado do outro lado da rua para comprar pão agora estava atravessando um pedaço do mapa para satisfazer o seu coração.

Chegou ao território desconhecido e se sentiu mais à vontade que na própria casa. Ele estava exatamente no local em que deveria estar, na hora certa e com a inspiração intrínseca aos protagonistas dos maiores feitos da humanidade. Quanto a ela, sim, ela realmente estava lá e eles se encontraram. O que precisava ser relatado, foi, afinal no amor cada um cria a sua história.

Podemos reescrever o nosso destino.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Bom convívio em sociedade

A sociedade estraga os seus melhores homens
Saiba disto quando estiveres disposto a ser bom
Ao  teu lado, urubus querem de ti uma carniça
Se torna perigoso buscares manifestar o teu dom

Tu corres em uma maratona praticamente só
Desviando das armadilhas do convívio social
Percebes nisto que eles almejam lhe derrubar
Com críticas "construtivas" em um teor boçal

Seja forte, autêntico, sublime e surpreendente
Só assim conseguirás calar estas bocas grandes
Tu tens que vencer desafios no espalhar do bem
Notadamente é mais fácil imitar os ignorantes

As pessoas encontram motivos para o confronto
Crenças, etnias, time de futebol, o jeito de olhar
Eleições, roupas sujas, modismos, gosto musical
São poucos os que vislumbram a paz: vais tentar?

Lhe sugiro que mantenhas a serenidade intacta
Se pegares em armas, tu acabarás desamparado
Não és como eles, eles lhe invejam nas glórias
A difícil missão ficou para o verdadeiro soldado.


Tente ser o melhor, mas prepare-se para o pior.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A magia do desconhecido

Desconhecido, sente-se, vamos conversar
Dá para ver que você tem muito para falar
Garanto que sou capaz de lhe fazer sorrir
Entendo, porém, se você optar por partir

Posso notar a sua tristeza e isso machuca
A nossa realidade é simplesmente maluca
Se você fosse mais frio não sentiria tanto
Mas mesmo de longe é nítido o seu pranto

Vamos ao brinde de uma existência futura
Sacar as fichas de uma finalidade insegura
Somos pequeníssimos e é o que conforta
Lhe digo, de fé, que isso não é uma lorota

O que lhe espera tem tudo para ser melhor
Se hoje você sofre, saiba que não é o pior
Tudo no seu tempo, marujo, irá acontecer
E a brilhante recompensa você irá receber

Não existe mais medo, estamos flutuando
Somos outras pessoas, agora, aqui voando
Toca a harpa e é de libertação o seu som
Ouça, meu amigo, está alto e bom o tom

A extracorpórea magia nos dá plenitude
Um fecho de luz desperta a real atitude
Olho para você e lhe vejo transformado
Alma conhecida, é sublime o seu estado.


Somos outras pessoas, agora, aqui voando

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A cada bomba que explode

Mais um ano está chegando ao fim e, sendo realista, percebi, neste, a violência aumentar em grande escala nas diversas proporções geográficas: municipal, regional, estadual, nacional e mundial. Não gostaria de demonstrar pessimismo, mas horríveis notícias sinalizam um próximo ano marcado por terror também e até mesmo uma Terceira Guerra Mundial tornou-se plausível.

A cada bomba que explode, no Oriente ou no Ocidente, na Síria ou na França, a minha esperança na humanidade se esvai. O quão humanos somos à medida que estamos separados por raças, culturas e religiões? Habitamos o mesmo planeta, mas a impressão que fica após um grande atentado é que a convivência pacífica por aqui se tornou inviável.

Se, por vezes, é tão complicado dividir o mesmo espaço com alguém parecido conosco, certamente fazê-lo com quem é bastante diferente exige um esforço redobrado, um exercício de tolerância. E é justamente a falta de tolerância que tem assombrado os nossos dias de glória, as nossas melhores almas e os pensamentos de luz, motivando os conflitos.

Ninguém é igual a ninguém, mas somos todos tripulantes de uma mesma nave, a Terra, sendo este um motivo mais do que suficiente para, no mínimo, não nos intrometermos na vida de quem não se parece conosco e não compartilha das mesmas opiniões. Quem faz o mal em nome de um ser superior, na realidade, evidencia a sua percepção anã do mundo.


Dizem que a paz acabou, mas ela sequer começou.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Este terno

Vê se você muda
Eu tô falando sério
Ler Pablo Neruda
É cheio de mistério

Vento de regresso
Vidas a conflitar
Outra gambiarra
Não irá me chocar

Uh... tira logo este terno

Você nunca avisa
É frio e impontual
Vejo no seu punho
Uma atração fatal

Estufa bem o peito
Antes da mancada
Ao menos você ri
Na hora marcada

Uh... eu já tirei este terno.

De terno, fica bem, mas melhor sem.


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Instinto revolucionário

É tempo de encarar a realidade
E fazer tudo o que der vontade
Optando por agir com virtude
Frequentemente você se ilude

Supondo que sejamos errantes
É sábio não repetir os de antes
As trevas podem virar uma luz
Entendendo o que nos conduz

Outrora caça, agora caçador
Demonstrando que tem valor
Sem alimentar expectativas
Enxergando as alternativas

O aprendiz brinca de mestre
Pisando firme o solo terrestre
Cansou da só contemplação
Absorveu para si a revolução

É hora de alteração: vamos lá!
Estava muito tedioso para cá
Tocou-se o sino com rebeldia
Encerrando a fria monotonia

Reconheça os seus instintos
Venha aqui, sejamos amigos
Temos uma lei: a desordem
Moralistas que se acordem!

É hora de alteração: vamos lá!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A dor acaba

Quando faz calor, modifica o seu jeito
Sempre diz "não" disfarçando o "sim"
O que irão dizer destes fatos isolados
Se agora uso bermuda e não uso jeans?
(Oh, não... não mais)

Será que haverá o paraíso algum dia?
Está tão ruim ajuntar trocados na rua
(Estou caído, caído no chão)

Já perdi o sono umas quantas vezes
Por pensar demais sem pensar direito
Sei que você sabe que estou sofrendo
Ficar muito bem não seria perfeito?

Uma tarde de sol, porém sem praia
Queremos lembrar do que não temos
Poderia ser apenas falta de sabedoria
Mas o que nos restou foi muito menos

A dor mata, a dor castiga
Quem já se sentiu assim
A dor corrói por dentro
E lhe destroça por fim

A dor se vai, a dor volta
Até o adeus derradeiro
A dor conhecemos bem
Nada é tão verdadeiro.


Que o final venha como uma libertação.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Jardim sem flores

As mulheres perderam a coragem de sair na rua, e a rua, consequentemente, perdeu beleza. Elas temem olhares maldosos, comentários vulgares e investidas violentas que tornaram-se um hábito vergonhoso de nossa sociedade, que oprime e jura não oprimir. O homem vem subtraindo gradualmente a sua humanidade e será o responsável pela extinção dela.

A cegueira que mais me preocupa é a de quem não quer enxergar. A causa feminina é nobre e espero que não seja preciso que um troglodita qualquer passe pela situação de uma irmã ou filha sua, por exemplo, sendo abusada, para se dar conta de que a mulher merece respeito. Não se trata só de uma disputa, mas de uma súplica por igualdade.

Os assediadores são incapazes de se colocar no lugar das assediadas e acreditam que agir desta forma confere a eles uma superioridade, a prevalência do gênero mais forte sobre o mais fraco. Na verdade, eles são uma aberração mascarada de sexo masculino, uma anomalia de uma organização devastada, um aborto da natureza.

Não é necessário ser muito inteligente para perceber que nenhuma mulher que se valoriza o mínimo possível pretende ser abordada de uma forma desrespeitosa por um desconhecido qualquer. Mesmo assim, o desqualificado chega nela de uma forma desprezível, fazendo com que ela sinta nojo de sua atitude. Será que quem age assim gosta mesmo de mulher?


As mulheres temem. A espécie humana assusta.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Campo de batalha

Nova votação na Câmara dos Deputados
O povo assiste a tudo em regime fechado
Reviravolta entre reprovação e aprovação
Da noite pro dia, o que era sim vira não

Nenhuma bandeira nos representa de fato
De todas essas siglas nós estamos fartos
Valemos bem mais do que alguns reais
Há propaganda política em todos canais

Não se renda a toda essa hipocrisia
Pense por si mesmo, não desista
Não se venda por qualquer fantasia
Seja você mesmo, seja realista

Que país sobrará às próximas gerações?
À medida que são tantas as corrupções
Parece que virou normal ser desonesto
Na hora de decidir, escolha o lado certo.


De todas essas siglas nós estamos fartos

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Verdadeiro ou falso

Desconfie de quem só lhe procura na festa, no auge, no momento sublime. Não aposte todas as tuas fichas em quem esteve contigo na bonança e apenas nela. Andando de limousine, todo mundo é amigo de todo mundo, formam-se pares e criam-se histórias ali mesmo, na calada de uma noite que só tem a celebrar um suposto enriquecimento pessoal de cada membro envolvido.

Abra os teus olhos para quem está contigo na pior, na inconveniência, no desgraçar das esperanças. Aquela companhia que sabia que não obteria muito de ti, confirmou que não teve nada, mas mesmo assim permaneceu ali... essa parceria provavelmente estará contigo sempre. Quem conhece o teu lado ruim e o aceita tem tudo para compartilhar contigo desenlaces maravilhosos.

Joguemos fora as expectativas irrealizáveis de felicidade eterna e de vida perfeita: não existem! Quanto mais gente estiver conosco na pior, melhor. Normalmente, são pouquíssimos os que ficam e, sendo sincero, pode acontecer que ninguém permaneça em momentos assim. Se um desventurado qualquer ficar, olhe para ele e diga: "cara, obrigado por estar aqui". Um agradecimento verdadeiro faz falta!

Tu tá mal? (In)felizmente, eu tô contigo!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Especial - Dia das Crianças

Eu queria ainda ser criança

Quando eu era criança
Sabia que poderia mudar
O humor, o dia, o mundo
Sem medo de me expressar

Assistia desenho pós-aula
Jogava bola todas as tardes
Mal sabia o que era tecnologia
Precisava saber? Não queria!

A felicidade era constante
Amigos eram, de fato, amigos
Gostava até de ir à escola
Bons tempos aqueles antigos

Havia festas de aniversário
Com pessoas alegres em casa
Abrir presentes era mágico
Para voar, só faltavam asas

Conhecia a violência pela TV
Podia caminhar em paz na rua
Vislumbrava um futuro farto
A realidade é nua e crua

Eu queria ainda ser criança
Mas criança não posso mais ser
Um sonhador, por ora, posso
Que aquilo que fui ainda serei.


Parabéns às crianças novas e velhas!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

De domingo à noite

Por vezes, nós ficamos desesperançosos
Se o clima está pesado e nos contamina
Quando a maldade sobrepõe fatos bons
Estarmos intranquilos se torna a rotina

Os planos para o futuro amenizam a dor
De uma realidade que veio para devastar
Somos, agora, participantes de um jogo
Sem vencedores ou hora para terminar

Olhar para trás é uma escolha arriscada
Quando se percebem os mesmos erros
Outras decepções, quedas imprevisíveis
Tristeza constante, felicidade de menos

Derramar umas lágrimas parece certo
Para quem ainda consegue sentir algo
Habituado com indiferença e desilusão
Consciente de que sofreu o seu estrago

Não queria estar arruinado no domingo
Mas constatei que acabou mais um dia
Tudo se passou e o ano quase terminou
Como se fosse uma música sem melodia.


Somos, agora, participantes de um jogo
Sem vencedores ou hora para terminar



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Pequenas cidades, grandes negócios

Quando eu era criança, tinha uma admiração pelas grandes cidades, constituídas por arranha-céus, gente de montão e pontos turísticos de destaque mundial. Queria até mesmo saber o nome das capitais do maior número possível de países.

Crescido e com uma visão mais ampla da realidade que me cerca, percebo que as grandes cidades normalmente vêm acompanhadas também de grandes problemas, como a falta de segurança, a desigualdade social e os níveis acentuados de poluição.

Amadureci e mudei de opinião: agora, prefiro as cidades pequenas. Muitas vezes distantes dos grandes centros, elas apresentam as suas peculiaridades e, embora também passem por maus bocados, normalmente estes estão bem mais sob controle.

Nos pontos quase imperceptíveis do mapa, residem pessoas com histórias culturalmente riquíssimas, belezas naturais que nos desacostumamos a ver e um sentimento de fraternidade que rege as relações humanas, estabelecidas com base na confiança.

Na contramão do ciclo migratório natural do ser humano, que culmina na saída do seu cantinho para um complexo maior, quero largar o meu cantinho para fixar-me em outro ainda menor e menos comentado, porém mais acolhedor e instigante.

Cascata em Cotiporã/RS (cerca de 4 mil habitantes).

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desfilando na chuva

Certa vez, um aventureiro saiu a caminhar
Estava chovendo e ele permitiu se molhar
Sem apressar o passo, optou pela sensação
Enquanto todos corriam, ele era a exceção

Sabiamente, refletiu acerca da fuga alheia
Era como se cada um quisesse a sua aldeia
Muito calor no verão, muito frio no inverno
Sempre há o que reclamar, um ciclo eterno

Imaginou o que eles imaginariam ao vê-lo
Sozinho, encharcado, em total desmazelo
Sequer possuía um guarda-chuva: coitado!
Já que é tão comum se prevenir um bocado

A sua intenção era lógica: sentir a chuva
Ao mesmo tempo que tinha gente de luva
Que pecado! Que blasfêmia! Que heresia!
Não ser mais um desesperado em demasia

Ele poderia ter ficado gripado e não ficou
Ter optado por chegar antes, mas desfilou
Parecia insana a curtição naquele cenário
Mas a felicidade não tem prévio horário.


Correndo ou não, a chuva molha.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sonhei contigo

Experimente dizer para uma pessoa que você sonhou com ela. Até mesmo quem é muito fechado não resistirá à tentação de querer saber o que ocorreu naquele momento, em um lugar qualquer, sem depender da sua vontade para que acontecesse. Os sonhos são manifestações extremamente íntimas de cada um de nós e isso é tão verdade que só nós sentimos à vontade para confiar detalhes deles a quem é importante na nossa vida.

Diante da luz da psicanálise, o sonho é a oportunidade de realizar um desejo reprimido pela sociedade que nos cerca com os seus costumes; em um ponto de vista espiritual, o sonho se configura como o desprendimento da alma em relação ao corpo, podendo inclusive possibilitar o encontro com outros seres. Sonhar, pelo que se percebe, significa bem mais do que simplesmente adormecer e lembrar de algo que passou pela cabeça durante o dia.

A questão é tão complexa que envolve fenômenos relacionados e eu citarei dois deles. A paralisia do sono ocorre quando, em pleno sono REM (quando os sonhos são mais frequentes), a pessoa acorda e percebe que não consegue se mexer na cama; os sonhos lúcidos, por sua vez, são uma experiência de sonhar com a consciência de que se está sonhando, com o indivíduo tendo o poder de controlar elementos diversos.

Acredito que, à medida que passamos a dar o merecido valor à intensa atividade cerebral que ocorre mesmo enquanto estamos dormindo, podemos encontrar significados mais abrangentes sobre situações do cotidiano através dos sonhos. Eles são capazes de, se acreditarmos, nos indicar uma luz para a resolução de problemas diversos e, quem sabe, anunciar que estamos apenas de passagem em direção ao caminho da eternidade.

Coisa boa sonhar com um belo lugar
Como se, um dia, tivéssemos ido lá.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Espaçonave

De que adianta estar em uma nave espacial
Se a estrela mais bonita está do lado de fora?
De que adianta ser uma pessoa tão pontual
Se simplesmente nada ocorre àquela hora?

Deviam ser dez e quinze quando ela partiu
A nave voou, o tempo passou e tudo sumiu
Nova semana, outra era, mas isso se repete
A lacuna está aberta para que ela complete

São tantos astros em um espaço infinito
Disputando as atenções do fiel auditório
Que anseia por notícias, até por um grito
Um sinal qualquer que desfaça o ilusório

Os planetas distantes são mais misteriosos
Não tem novidade: eles atraem os curiosos
Trajetórias íngremes dispensam um atlas
Buracos negros não aparecem nos mapas

Os tripulantes foram avisados sobre o perigo
Entretanto, optaram valentemente por flutuar
Situação essa que remete ao conselho antigo
Dado às crianças em relação ao fundo do mar

Quem quer ficar na história, não tem medo
Busca as grandes conquistas, amplo enredo
Fica mais acessível confiar no improvável
Se até mesmo a protagonista é indecifrável.


Deviam ser dez e quinze quando ela partiu
A nave voou, o tempo passou e tudo sumiu

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Conversa calada

Todos estão atentos a suas telinhas móveis
São seres fantasmagóricos, meros ignóbeis
Afinal, é prático se acostumar com a ilusão
Quando a realidade exalta ódio e desunião

Observe ele teclar para um amigo longe
Mal dá para vê-lo no outro lado do bar
Prefere esse lance de quem se esconde
Do que olhar no olho para conversar

Um cara de bem está internado no hospital
É grave ser honesto em um mundo animal
Todos que são justos não seguem a linha
De uma sociedade violenta em sua maioria

Ignore a frieza comum a almas penadas
Mesmo que pareça normal ser distante
Crie vínculos, não somente fachadas
Para este sistema, seja mais errante

Vamos todos dar as mãos e olhar ao céu
Orar por um futuro que seja menos cruel
Está difícil de acreditar no que acontece
Bairro, município, estado, país emudece.


Injustiças ocorrem a todo tempo e suportamos quietos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Quinze letras

Onde
Reina
Democracia
Existem
Manifestações

Enquanto

Povo
Reelege
Outro
Governante
Repensa
Estranha
Surta
Sucumbe
Oscila

Que cada um complete como achar mais coerente.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Inconvenientes

A melhor roupa para um evento sem graça
Um traje qualquer para uma noite e tanto
O ingresso mais caro, o preço mais alto
Status lá em cima, satisfação de canto

Ganhar a partida e perder o campeonato
Fazer um gol contra diante do seu rival
Gostar de terror sem conseguir dormir
Começar um filme pensando no final

O amigo da escola que virou conhecido
Rostos estranhos tornando-se naturais
Um diálogo na internet emocionante
Aquele encontro que não saiu mais

Casar porque é normal, mas sem amor
Acabar um relacionamento de meses
Viajar pelo mundo no Google Maps
Ir na brasileira Praia dos Ingleses

Perceber que convêm inconvenientes
Como construção após a destruição
Árvore que cai, ergue-se o outdoor
'Feliz Dia da Árvore, meu irmão!'.

A árvore, em São José do Rio Preto/SP, foi derrubada;
colocou-se, no lugar, um outdoor sobre preservação.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sugestão para a educação

A realidade da educação no país é de muitos professores trabalhando insatisfeitos, instituições de ensino precárias e um suporte que deixa a desejar por parte do Estado. Sabendo de tudo isto, soa improvável que um aluno inserido no contexto venha a aprender o necessário, mas pode não ser.

Nunca, na história da humanidade, existiu um acesso tão grande à informação e em tão pouco tempo como agora, além de que indivíduos de classes sociais diversas estão diariamente conectados à internet. Há munição de sobra para os corajosos guerreiros que se arriscam a procurar respostas para as suas dúvidas cruéis.

Se a professora de História não ensinou o bastante sobre a Guerra Fria, há inúmeros sites, videoaulas, documentários e informações variadas na rede sobre o assunto, bastando alguns cliques e um exercício de atenção para iluminar a mente. Sem contar que a pesquisa pode ser feita em um ambiente calmo, diferentemente do estresse da sala de aula.

Todos os que não foram privilegiados com a chance de pertencer aos escassos educandários de qualidade podem e devem praticar o autodidatismo. Meia hora de leitura normalmente pesa mais que meia hora de conversa informal em um mensageiro instantâneo, mas o conhecimento adquirido provavelmente é a maior das riquezas terrenas.

É necessário aprender a aprender.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Chapa quente

Se a chapa ficar quente, que quebre o gelo
Desses corações que mal sabem se batem
Que não precise ser tão frequente o apelo
Por menos indivíduos que saiam e furtem

Arsênio, tungstênio, qual a fórmula química
Que possa brecar o ódio e iluminar a rota?
Já tentei de tudo, me surgiu até a mímica
Para ser compreendido e aumentar a nota

O otimismo encontrava apenas sinônimos
Antes da explosão de manchetes negativas
Há choque de realidades, muitos antônimos
Uma sociedade de escassas almas altivas

Não tem liberdade ao sair à rua com medo
Estar preso entre quatro paredes é sufocante
Se não estiver sendo escutado, eu entendo
Viver bem deve ser um sonho já distante.

O otimismo encontrava apenas sinônimos
Antes da explosão de manchetes negativas

segunda-feira, 27 de julho de 2015

De pés descalços

Eu, que andava sobre pétalas de rosa,
Agora piso sobre cacos de vidro.

Irá doer, mas faz parte da travessia.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Real imaterial

O sonho, inconsciente
Manifesta uns desejos
Descansando a gente
De momentos tensos

O sonho, se espiritual
Difere a alma do corpo
Ocorre elevação astral
E encontramos escopo

Embora haja ceticismo
Dormida só por dormir
É mister fazer batismo
Com novas ideias porvir

Toda a criação é bela
Mesmo um temporal
Observado pela janela
Vira uma peça teatral

O homem é minúsculo
Pensando no Universo
E cada novo crepúsculo
Se olha mais disperso

Estuda-se para entender
O que não se explica
Tem sempre um a crer
Que eternidade suplica

O real imaterial dança
Ora em via imaginária
Antes da vinda bonança
A libertação necessária.

O sonho, se espiritual
Difere a alma do corpo

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Medo da morte

Você é um babaca que sai de casa
Achando que irá causar confusão
Talvez algum incidente lá na praça

Você fala que é fogo, mas é brasa
Tentando se destacar na multidão
Foge quando ocorre uma desgraça

Medo da morte, medo da morte
O seu fim está muito próximo
Medo da morte, medo da morte
Todos os outros achariam ótimo

De quantos você já correu até hoje
Depois de tentar expor a sua visão?
Humildade serve como um lema
A alguém que tenha consideração

Mas o seu nada merece repúdio
Ninguém gosta de se aproximar
Medo do depois, medo do depois
Não existirá par a lhe consolar.

Medo da morte, medo da morte
O seu fim está muito próximo

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Big Bang da informação

A popularização da internet possibilitou a disseminação de informações e, consequentemente, o livre exercício de opiniões sobre temas diversos. O que em décadas passadas se restringia a rodas específicas de debate agora espalha-se pela rede em questão de instantes, acumulando visões convergentes e divergentes em um mesmo meio que constantemente se atualiza.

Quando uma pessoa importante, ou nem tanto, manifesta uma opinião polêmica, ela deve estar preparada para a enxurrada de comentários que virá a receber, sendo muitas vezes eles depreciativos, pois cada indivíduo é único e ninguém é obrigado a concordar com o que o outro disse. No meio virtual, tanto o jornalista famoso quanto o blogueiro anônimo são passíveis a julgamentos.

Em instantes, um comentário pessoal pode virar global.

É bem verdade que a proporção que um comentário controverso advindo de um nome célebre da mídia adquire uma proporção singular nos meios de comunicação, sobretudo na internet, tornando-se um viral. Entra em cena, logo, o oito ou oitenta: enquanto um lado irá desejar a cabeça do comentarista, o outro buscará encontrar formas de defender o que ele afirmou.

Chegaremos, ao final de tudo, a um consenso? Não. Até mesmo o falecimento de um artista é um prato cheio para os entreveros que se iniciam na rede e ganham destaque nos debates cotidianos. Ao passo que alguns choram desesperadamente, outros questionam a real importância cultural daquele indivíduo. Com o Big Bang da informação, todos podem analisar e ser analisados.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Numerologicamente

A organização toda padece lentamente
Sendo conduzida descontroladamente 
Um velho barbudo, no Texas, sorri
Ele sabe bem no que dará isso aqui

Pactos desfeitos por dinheiro a mais
Fale o seu preço, deve haver algum
Somos condicionados ao voto comum
O outro candidato é estranho demais

Paixões incendiando sem uma pausa
Relacionamentos acabando do nada
Aventureiros estão ficando em casa
Confissões silenciosas na alvorada

12 de fevereiro foi o início do fim
20 de maio é uma história daquelas
9 de julho e cá estamos novamente
Acreditando em datas infelizmente

Aquário, Sagitário, Áries ou Libra?
Editoras lucrando quase sem querer
Se a bola de cristal previsse o futuro
De verdade, você gostaria de saber?

Mudam os meses e as ilusões permanecem as mesmas.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Alfabeto sem formar palavra

Até que ponto vale uma promessa
Que no dia seguinte se desfaz no ar?
Letras voando na direção do vento
Um ou outro que crê no que foi dito
Arrependido, porém, de ter escutado.

O instante do ato é para sempre;
a promessa, frequentemente, não.

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Quem se interessa pela escrita e a edição de livros, bem como com a troca de experiências entre escritores, editores e livreiros, pode inscrever-se na comunidade online Carreira Literária e passar a receber o interessante conteúdo que a equipe disponibiliza por e-mail. Basta entrar neste site e deixar o seu contato, que imediatamente você estará participando do grupo literário de forma gratuita. Vamos divulgar a ideia!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O retrato de Dorian Gray

Dorian Gray, tu és tão belo, eu sei
Dorian Gray, o teu retrato eu verei
Ainda que ele oculte fatos macabros
Sejam eles sujos ou só incalculados

Tu amas com ardor, és profissional
Conquistas qualquer desventurado
Tua imagem provoca o bem e o mal
Deixas de amar sem achar errado

A filha e a mãe lhe desejam, Dorian
O padre e o cético lhe odeiam, Dorian
Por que tu não envelheces, garoto?
Deixas facilmente o conceito torto

Tu cortejas a filha do teu amigo, Gray
Tu consegues a citada filha, caro Gray
Penso não haver limite para a loucura
Vivendo do prazer e da plena fartura

Enquanto aumentas o círculo social
O teu inimigo chora ensanguentado
Bem sei que não imaginas um final
Mas és morto, quadro mal-acabado.


Tua imagem provoca o bem e o mal


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Uma era que já era

Ei, história inacabada, não venha ocupar meu tempo
Que hoje eu não estou para meias palavras e gestos
Rascunhos de felicidade, agora, não me completam
Esqueça o marujo que lhe declarou sendo honesto

Poderia esperar uma eternidade por um sinal teu
Nada acharia além de um afastamento crescente
Tu acompanhas de camarote o sofrimento alheio
Imagino que concordes com gente pisando gente

Se alguém obtém algo com facilidade, despreza
Se alguém obtém algo com dificuldade, preza
É por isso que tu estás em Netuno e eu na Terra
E é por isso que, assumidamente, lhe quis à beça

Só que não sonho mais contigo como outrora
Nem penso na possibilidade de me reapaixonar
Eu amadureci, é verdade, não se vive de saudade
Me dediquei por inteiro e descarto a tua metade

Excluo o teu contato e é para que tu percebas
Vais perder tudo, lidaste com a situação errada
Mal sabes o que fazes, és dispersa no caminho
Se a tua realidade é ventania, virará redemoinho

Quem acha que comanda, pode se equivocar
Mesmo tendo um imenso séquito de devotos
Bom saber que o questionamento é permitido
Havendo repressão, teu império seria mantido.

Quem acha que comanda, pode se equivocar
Mesmo tendo um imenso séquito de devotos

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A fotografia que seduz

Não sou poeta quando trato com fotos. O poeta é essencialmente romântico, do tipo que aprecia o retrato, se deleita, até chegar ao ponto de enjoar-se e queimar a fotografia sem dó. Eu aprecio, aprecio e aprecio mais um pouco! Vamos combinar: há imagens que merecem uma moldura compatível à beleza demonstrada.

Perco a noção de espaço, mas não perco a foto de quem eu gosto. A quem irei recorrer quando precisar de algo a mais? Não desmereço de modo algum a reza, afinal ela parece fazer milagres às vezes, mas um belo rosto detalhadamente trabalhado estimula e absorve para si aquilo que sentimos. É esplêndido!

Guardo carinhosamente um álbum de tudo o que me faz bem, é assim que não caio. Quando a insensatez do mundo exterior me ferre, recorro às lembranças inesquecíveis de pessoas e momentos únicos, que existem independentemente do tempo que for. Que não venham me dizer que vivo de passado, pois a recordação é uniforme!

Se os nossos olhos tirassem fotografias, seríamos protagonistas de sublimes manifestações artísticas que até aqui só cabem à nossa memória. Serei sincero: podemos compartilhar, por meio de palavras, com qualquer pessoa, a singularidade de determinado momento, porém elas nunca sentirão o que sentimos no ato. Uma imagem fala, e falaria, mais alto.

"As fotos são uma maneira que o ser humano viu
Para atenuar a dor ocasionada pela saudade
De momentos que nunca voltarão."